sexta-feira, 4 de junho de 2010

Doce vinho

Acordei com os raios do sol batendo em meu rosto, inevitável não levantar a mão na direção dos olhos. Uma musica tocava em outro cômodo da casa. Chance de ter alguém em casa além de mim era quase nula, eu disse quase. Sentei na cama e a dor de cabeça me deixou um pouco tonta.  O que havia se passado na noite anterior? Não me lembrava de absolutamente nada. Com muito custo levantei e me pus a andar, andei pela casa toda até chegar na sala. Desliguei o som e pude ver  meu querido amigo ali adormecido no sofá, todo torto, arrancou-me um sorriso. Agora flashes resolviam criar vida. Vi as taças com resquícios do vinho, ali estava o motivo da minha dor de cabeça. Lembro de estar bebendo sozinha, apenas como mais um hobby de tantos que eu tenho, quando percebi uma garrafa de vinho havia terminado, flashes do Bruno chegando desesperado. Apenas isso e nada mais. Admirando ele ali no sofá, resolvi me aproximar sorrateiramente e acabei sentando no chão de frente pra ele. Cara admirável, o único amigo que eu tinha, digo de verdade. Com meus dedos fiz o caminho do seu rosto, bem superficialmente pra não acordá-lo, deitei minha cabeça na ponta que ainda sobrava do sofá e fechei os olhos. Subi para uma das pequenas orelhas dele, sempre o zombava, e logo estava me perdendo naquele cabelo sedoso e macio que só ele tinha. Nem preciso falar, quer dizer preciso, perdi a noção do tempo, fiquei fazendo carinho ali por mais ou menos uma hora e meia e não cansei. O vento que entrava na sala me refrescava sem dúvida. Tive a sensação de ter alguém me olhando, abri os olhos devagar e era ele me observando do jeito que só ele sabia, me deixava super sem graça. Sorriu pra mim e soltou um “bom dia” bem rouco, apertei a orelha dele e respondi na mesma intensidade do sorriso o bom dia. Ficamos em silêncio por uns três minutos, até que minha barriga roncou absurdamente alto, foi inevitável não rir daquilo. Levantei do chão e o puxei pela mão para a cozinha, precisávamos de comida urgente. Ligada a cafeteira, procurei algo que parasse com aqueles roncos horrorosos que minha barriga insistia em soltar. Com o café e tudo o que servia para reduzir a nossa fome prontos, fomos comer. Ele parecia morto de fome, e olha que não ouvi um ronco daquela barriga, brinquei dizendo que eram duas pessoas pra comer e não só ele, consegui uma careta com a língua pra fora. Bobos! Resolvi perguntar como ele havia aparecido lá em casa, e tudo o que me disse era que eu tinha ligado aos prantos pedindo por ele e que ele havia corrido pra cá. Disse que não me lembrava de nada e que ele estava tirando proveito, ganhei um sorriso irônico dele, resolvi parar com a zombaria. Continuei comendo quieta, me controlando para não falar mais besteiras e foi a vez dele falar me encarando “devias parar com o vinho”, acredito que fiquei com cara de que não estava entendendo nada e ele começou a rir muito. Eu estava ruborizada! Levantei e bati na cabeça dele com um pouco de força e disse “o que quer que eu tenha feito você gostou” e finalmente sorri junto com ele. Voltei pro quarto e me joguei na cama, ele estava vindo logo atrás só sabia por causa do perfume dele, quase não fazia barulho quando andava. Quando virei para olhá-lo, ele já estava deitado ao meu lado me abraçando. Ele sem dúvida era a melhor coisa que eu tinha. Sempre suspeitaram sobre nós dois, e dávamos motivos, era interessante ver todos ao nosso redor especulando se era apenas amizade ou se tínhamos um caso. Não faz parte contar se temos algo, cabe a você ser mais um a especular.

Um comentário:

  1. Hmm, curioso mistério...
    Muito bom, adoro ler seus textos, apesar de não comentar sempre...

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